Zona de Conforto

De Mauro Mueller | 26 de março de 2020 | 10:22
tela do artista plástico Marcio Camargo

Talvez os nossos avós, na Segunda Guerra Mundial tenham vivido coisa parecida. Alguns lugares no mundo vivem em situações bem piores e com ainda mais dificuldades, é só ver na história recente os conflitos, guerras e terrorismo presente em várias partes mundo afora, sem contar os países pobres, enfrentando epidemias e a fome, são bem piores do que ficar em casa e esperar novas instruções.

Sabemos que algum dia bem próximo de hoje, vinte e seis de março de 2020, teremos uma vacina, a cura deste mal e que logo poderemos sair de casa e voltar as nossas rotinas.

Um desafio nos próximos meses será refazer negócios, revitalizar a economia e voltar a ver o dinheiro circular. Quem estava quebrando, pode ter quebrado hoje. Quem estava devendo, não gerou lucro para pagar dívidas. Quem estava desempregado, não conseguiu sair em busca de trabalho. Quem estava planejando, teve que adiar os planos.

Por quanto tempo for necessário. Serão dias difíceis, eu sei.

Ansiedade, solidão, insegurança, gerados pelos fatos e pelas informações. Presos em suas casas, pessoas assistem a TV, os portais de notícias, abrem o whatsapp e muitas coisas que vemos provocam o medo.

Como eu sou uma pessoa otimista e positiva, eu acredito em viver agora o que precisa ser vivido, fazer o que precisa ser feito, para voltarmos logo aos dias de normalidade.

Eu sempre ouvi que as pessoas precisavam sair da sua zona de conforto, que seria aquela que a rotina tomava conta da mente do ser humano. Acordar, ir ao trabalho, voltar para casa e ter medo de mudanças na vida.

Não que a normalidade sejam dias calmos, mas de um modo geral, as pessoas estão sendo obrigadas a sair de sua zona de conforto, sair de sua rotina. Acordar todos os dias no mesmo horário, ir para o seu trabalho, aula, voltar para casa, relaxar no sofá e esperar a sexta-feira para se reunir com amigos, happy hour, churrasco, barzinho, passear com o cachorro, ir à igreja, jogar bola com a rapaziada, encontrar amigos e parentes, descer para o litoral, trabalhar fim de semana, sair para um rolê, ir para o parque, fazer academia, teatro, show, apresentação da escola, dormir cedo dias de semana e ir bem tarde para a cama no fim de semana.Toda esta rotina foi alterada de forma radical, para todas as pessoas normais do planeta. E até para quem não pode parar e trabalhar em casa, pois pegou um trânsito menos caótico e um movimento diferente em seu dia a dia.

Todos sentimos, de alguma forma, a vulnerabilidade do ser humano em sentir medo de um inimigo invisível. O incrível saber que combate principal é a higiene pessoal e ficar sem contato físico com outras pessoas. Não podemos abraçar, beijar e chegar perto.

E como sou mesmo otimista e positivo, meu desejo é que depois que passar esta fase e pudermos de novo desfrutar do planeta normalmente, como vinhamos fazendo e com muito mais respeito, porque ficamos ausentes e vendo tudo de dentro de nossas casas, sem poder fazer nada. Espero que o desejo e a saudade sejam impulsos para a melhor qualidade de vida das pessoas. E eu não estou falando em um melhor ambiente em casa, no trabalho e nas cidades. Estou falando daquelas pessoas que já não abraçavam tanto, não beijavam tanto, não sentiam a mão das outras pessoas e que já não tinham mais a vontade de chegar perto. Sair da zona de conforto, também é voltar a abraçar quem não abraçou, beijar que não beijou mais e dar a mão para quem precisa de uma mãozinha. O ser humano que prestou atenção no inimigo invisível, pode ter percebido neste microscópio da vida, gestos invisíveis, gestos simples e que fazem muita diferença, porque hoje tem muita gente sentindo falta da presença, do sentido sinestésico da presença, de ficar junto, de estar junto, em qualquer lugar. Porque a maior prisão é aquela que habita dentro do coração do homem.