Aliviada, mas com raiva: mãe de motociclista morto por PM fala sobre o caso

De Redação | 3 de junho de 2019 | 11:17

A mãe do motociclista Leandro Cordeiro, morto com um tiro nas costas no dia 21 de abril, na BR-277, em São José dos Pinhais, disse ter ficado “aliviada” após dois policiais militares terem sido denunciados por envolvimento no crime. Imagens divulgadas pelo Ministério Público do Paraná (MPPR), responsável pela denúncia, flagraram o momento em que um dos policiais se abaixa ao lado do corpo com um objeto que, segundo a promotoria, seria uma arma de fogo. 

Além de mostrar o policial se abaixando ao lado do corpo do jovem de 18 anos, o vídeo flagrou, ainda, o mesmo policial chutando o corpo de Leandro, aparentemente para esconder a arma encontrada pela perícia embaixo do rapaz. “Quando ele chuta meu filho, foi a mesma coisa que chutar a minha cara. Eu senti, eu passei mal, isso não se faz com ninguém”, desabafou a mãe do motociclista, Patricia Kelly Nascimento, na Rede Massa.

De acordo com a mulher, que tem outros dois filhos, de quatro e 12 anos, Leandro tinha pavor de armas e sua paixão era a motocicleta. Ele costumava “dar grau” com os amigos, ou seja, realizar manobras proibidas. “Eu já tinha aconselhado ele a não fazer em rua, tanto que ele fazia lá em um lugar abandonado que não tinha nem CEP, muitos vão lá. Eu tinha medo dele cair e se machucar, mas era só uma irresponsabilidade”, disse. 

O jovem foi perseguido por uma viatura da Polícia Militar (PM) no momento em que saiu deste local abandonado e, de acordo com os policiais, estaria armado – o que, supostamente, motivou os disparos na BR-277. “O que salta aos olhos naquele momento é que naquela rodovia tinham um movimento gigantesco e esses policiais que estavam perseguindo a vítima, no carro em movimento e em alta velocidade, disparam tiros em direção todos aqueles carros. Eu tive a morte desse rapaz, mas poderia ter sido ainda pior”, destacou o promotor João Milton Salles, que afirmou, ainda, que o jovem fugiu da PM por estar sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

O promotor, porém, lembrou que a conduta de ambos os policiais foi uma “exceção” e não corresponde à postura de toda a corporação. “Eu tenho um respeito absoluto pela atividade policial, e é importante dizer que a grande maioria são policiais que arriscam sua vida diariamente no trabalho em busca da segurança pública. O problema é que quando tenho um PM que pratica uma atitude dessas, a dimensão é muito grande e corre o risco de generalizar”, ressaltou.

Os agentes foram denunciados por fraude processual, porque teriam colocado uma arma sob o corpo da vítima, e por inserção de dados falsos em sistema de informações, no caso, o boletim de ocorrência. Além disso, um dos policiais foi acusado também de homicídio simples, como responsável pela morte da vítima.

Para Patricia, a divulgação das imagens e a denúncia dos policiais trouxe um “alívio”, pois comprovam que o filho não era um bandido e que ele foi, na realidade, vítima. “A gente ensina desde pequeno que a polícia é a lei, que nos defende, então como a gente explica isso? Enquanto eu estiver respirando, quero ele [PM] preso, e os outros que acobertaram também. Ele cometeu dois crimes: matou meu filho e colocou a arma embaixo dele”, concluiu.

Polícia Militar

Em nota, a Polícia Militar relembrou que um inquérito foi instaurado quando a situação foi registrada e disse que a investigação está “em fase de conclusão e será encaminhada à Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual (VAJME) para apreciação”.

Além disso, a corporação afirmou que “respeita as conclusões as quais chegou o Ministério Público” e disse que caso a responsabilidade dos policiais seja comprovada “as medidas são tomadas, conforme a legislação, sendo respeitados os direitos ao devido processo legal, à ampla defesa e ao contraditório”.

Colaboração Rede Massa