Chuva não dá trégua em junho

De Redação | 31 de maio de 2019 | 13:25

O Pacífico permanece mais quente que o normal, embora com desvios cada vez mais modestos. ANÁLISE: Em boletim atualizado em 09 de maio, o Centro Americano de Meteorologia e Oceanografia (NOAA) manteve a previsão de um El Niño fraco para o fim do outono e decorrer do inverno no Hemisfério Sul com chance de 80% no trimestre maio-junho-julho. Vale salientar que a previsão deste centro refere-se sempre à região central do Pacífico equatorial,setor chamado de “Niño 3.4”. Por lá, o desvio da temperatura está acima de 0,5°C desde o fim de setembro de forma quase ininterrupta.

As simulações indicam manutenção de desvios entre 0,5°C e 1,0°C até o fim do verão. Já na faixa leste do Pacífico, área mais próxima da costa da América do Sul, chamada de “Niño 1+2”, a situação é diferente. Seu aquecimento foi mais curto acontecendo entre outubro e março e o desvio mal chegou a 0,5°C. Trata-se de algo diferente de um El Niño tradicional. Em uma situação canônica, a parte leste deveria ter um desvio de temperatura maior que a região central. Daí, a afirmação de que o atual fenômeno é fraco, também chamado de El Niño Modoki. No fim de março, a água chegou a ficar até um pouco mais fria que o normal, mas observações de abril voltaram a registrar um desvio positivo bastante fraco.

Previsões apontam manutenção de um Pacífico com aquecimento fraco ou até mesmo levemente mais frio em alguns momentos entre maio e julho. A partir de agosto, há uma tendência de um período de aquecimento mais persistente, embora o padrão Modoki se mantenha durante todo o tempo (o Pacífico central permanecerá com desvios positivos maiores). De qualquer forma, é possível especular alguns cenários para o Brasil nos próximos meses. Chuva acima da média no centro e sul do país. Com o Pacífico equatorial central aquecido, os ventos fortes em altitude, chamados de Corrente de Jato, e que ancoram as frentes frias, permanecerão mais fortes que o normal. Com isto, a precipitação será mais intensa que o normal em uma faixa que começa em São Paulo e Mato Grosso do Sul e vai até o Rio Grande do Sul.

Um problema será a variabilidade espacial da chuva, já que o Pacífico leste com desvios mais variáveis até julho fará com que a corrente de jato, ora esteja mais entre o Sudeste e o Centro-Oeste, ora mais no Rio Grande do Sul. Então, a chuva acima da média não acontecerá o tempo todo. Observaremos alternância entre períodos chuvosos e períodos mais secos no centro e sul do Brasil. Entre agosto e outubro, com uma maior persistência de aquecimento do Pacífico Leste, espera-se também uma maior persistência nas precipitações sobre as mesmas áreas. Em um aquecimento mais clássico, a chuva acima da média em agosto acontece entre Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul e, até outubro, este máximo de precipitação, migra gradativamente para o Rio Grande do Sul.

Trata-se basicamente da posição climatológica da corrente de jato, que fica mais ao norte no inverno e mais ao sul no verão do Hemisfério Sul. Atenção com ondas de frio tardias. Um fenômeno El Niño fraco permite ondas de frio tardias. Não há previsão de muitas ondas de frio. Elas até devem ser espaçadas. Porém também podem ser fortes, inclusive em agosto e setembro. Aliás, como nos últimos anos, simulações mostram mais frio entre o inverno e início de primavera que durante o outono. Monitoramento será fundamental. Atenção com a primavera no Sudeste e Centro-Oeste. Normalmente, o aquecimento do oceano Pacífico inicia a chuva de primavera do Brasil de forma mais precoce.

É muito comum observarmos as primeiras pancadas de chuva e trovoadas ainda em setembro, se bobear ainda em agosto. Mas há uma diferença entre o início da chuva e a consolidação da precipitação. Com o oceano Pacífico leste aquecido, há risco de um período estiagem após as primeiras chuvas, situação diferente da registrada na primavera passada, quando a chuva consolidou-se mais rapidamente.

Temperatura – Previsão Geral

Sem grandes ondas de frio, a temperatura mínima permaneceu mais elevada que o normal em todo o Rio Grande do Sul com desvios que variaram de +1°C na Zona Sul a até 4°C na Região Central, Fronteira Oeste e Planície Costeira Externa. Já a temperatura máxima ficou próxima da média na maior parte do Rio Grande do Sul.

Como as frentes frias chuvosas ficarão mais ao sul, não há previsão da entrada de muitas ondas de frio com exceção da primeira semana do mês de junho. As tardes frias chamarão mais a atenção, sobretudo do Rio Grande do Sul, em função da grande frequência de dias nublados. Há potencial para quedas mais acentuadas da temperatura em julho e agosto, mas a frequência com que a temperatura declinará não será das mais elevadas.

Precipitação – Previsão Geral

Maio termina com chuva acima da média na maior parte do Rio Grande do Sul. Somente na Zona Sul, o acumulado não foi suficiente para alcançar a média histórica. A Região Central e a Planície Costeira Externa receberam valores entre 200 milímetros (mm) e 250 mm quando o normal seria pouco acima dos 100 mm. Por outro lado, municípios da Zona Sul receberam menos de 50 mm.

Após um fim de maio com chuva forte entre Santa Catarina e Paraná, ao longo do mês de junho a precipitação migrará para sul e será mais frequente e intensa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina com maiores desvios na Planície Costeira Externa. Simulações apontam maior concentração de chuva nesta região ao longo da primeira quinzena de junho.

Posteriormente, na segunda metade do mês, a precipitação migrará um pouco mais para sul concentrando-se somente sobre as demais áreas produtoras do Rio Grande do Sul. O acumulado total mensal para dos 200 mm em uma região que costuma receber pouco mais de 100 mm nesta época do ano. Simulações mais estendidas indicam manutenção da chuva forte e frequente sobre o Rio Grande do Sul até a primeira quinzena de julho.

Subsequentemente, esperam-se maiores janelas de tempo seco com a migração da precipitação na direção do Paraná. A informação estendida depende da temperatura da porção leste do Pacífico, cuja, a previsibilidade é mais baixa. Por enquanto, o aquecimento que poderia levar a chuva do Rio Grande do Sul para o Paraná está previsto somente a partir de agosto. Portanto, o monitoramento será fundamental.

Fonte: Agrolink