Laços de Sangue: os bastidores da maior série da televisão paranaense

De lucianpichetti | 16 de julho de 2020 | 17:56

“Eu nunca vi nada parecido na minha carreira. Uma história que só se vê em filme.” A afirmação é de Vinícius Dias, um dos editores da Laços de Sangue, mas poderia ser de qualquer um dos envolvidos na produção da maior série da vida real da televisão paranaense.

A história surgiu da rotina de acompanhamento de júris, que está no DNA do Tribuna da Massa.

“Eu estava em uma manhã de trabalho na redação e eu tenho o hábito de olhar a pauta do Tribunal do Júri. […] E aí, na minha busca, eu encontrei esse julgamento. Comecei a ler a história e ela super me chamou a atenção”, declarou a “mãe” da Laços de Sangue, Giselle Lima.

O caso impressionou a todos da produção e a história virou série. “Ela não veio como uma minissérie. Na verdade, seria uma reportagem especial. […] Ela surgiu como uma minissérie aos poucos. […] A gente foi lapidando, as informações foram vindo e a história foi ficando cada vez mais interessante”, afirmou Giselle.

Vinícius Dias justificou a escolha pelo formato. “A gente procurou fazer isso da maneira mais íntegra […] omitir o que precisava ser omitido, mas mostrar o que precisava ser mostrado. A história é muito forte e merecia esse tratamento.”

O Júri

Em dezembro de 2019, o casal André Luiz de Lima e Luciana Cunha foi absolvido da acusação de estupro e assassinato de uma bebê de 10 meses, ocorridos em 4 de agosto de 2010. Um documento, que veio dos Estados Unidos da América, foi crucial para a decisão do júri.

“Enquanto buscava informações a respeito do caso, tive acesso a um documento enviado pela polícia americana à Justiça do Paraná. Neste documento, constavam os relatos de três crianças adotadas por uma família americana. Essas crianças eram duas irmãs e um irmão do bebê assassinado em Curitiba […]. Neste documento, a irmã mais velha confessava que tinha abusado sexualmente e matado a irmãzinha de 10 meses. O relato descrevia tudo com detalhes e, imediatamente, percebi que estávamos diante de uma história surreal”, afirmou Marcelo Vellinho, produtor da série.

Produção

A equipe então localizou o casal e marcou uma entrevista pela internet. O repórter Lucas Rocha foi quem conduziu a conversa. “Chegar até esse casal foi muito difícil, por que tratava-se de pessoas que moram nos Estados Unidos, não tinham contatos no Brasil […] um trabalho de investigação árduo.”

O desenrolar da conversa deixou o repórter de cabelo em pé. “Eles foram trazendo esses detalhes, eu fui ficando cada vez mais assustado. Até que eles falaram que a irmã do meio também tinha participado de tudo aquilo.” Um caso difícil de digerir, mesmo para quem está acostumado a contar histórias arrepiantes na televisão.

“Eu nunca trabalhei com uma história tão impactante como essa. O caso de duas crianças, participando do assassinato da própria irmãzinha. E não somente assassinato, mas também abuso sexual e outras formas de abuso. Então, realmente, foi uma coisa muito assustadora”, disse Lucas.

Desafios

A imprensa não acompanhou o caso na época, por que a morte da bebê foi tratada, em um primeiro momento, como natural. Esse fato exigiu muito da produção, que teve que começar dez anos de história do zero.

“O maior desafio foi justamente levantar as informações do crime, já que este caso não havia sido divulgado em nenhum meio de comunicação. A produção teve que encontrar os réus, pessoas que trabalharam na casa lar onde aconteceu o crime, a família americana que adotou as crianças, enfim, localizar todos os personagens dessa história”, declarou Marcelo Vellinho.

A edição da Laços de Sangue foi a mais trabalhosa da carreira do experiente editor Vinícius Dias. “Durou seis meses. A gente teve que fazer isso ao longo de uma pandemia e ainda lidando com outros assuntos, o factual do dia. Foi um trabalhão que valeu muito a pena.”

“O principal desafio foi a ilustração do material. Como foi um caso que aconteceu há muito tempo, a gente não tinha arquivo na casa. […] A história por si só era bem forte, bem atrativa. Mas, como contar isso visualmente? O que a gente tinha, basicamente, eram as entrevistas e o desafio foi transformar os relatos dos personagens em imagem”, relatou o editor de imagens Guilherme Liça.

Para isso, a equipe foi atrás de banco de imagens e investiu em dramatizações e recursos gráficos. A vinheta de abertura e os efeitos – criados por Guilherme Liça – ficaram dignos das séries da Netflix, algo nunca visto antes na televisão paranaense.

“A experiência de ter feito parte desse projeto foi incrível. Eu não lembro de um produto como esse, num formato desse, ter sido feito no Paraná. […] É um orgulho grande ter feito parte disso tudo, de um material tão bem produzido”, concluiu Guilherme.

Responsabilidade

Como levar ao ar, com responsabilidade, uma história como essa, em que vítima e “vilãs” são crianças? Um dos critérios adotados foi a não utilização dos nomes reais das meninas.

“Muita responsabilidade jornalística. Nós demoramos um pouco mais de seis meses para colocar essa matéria no ar. Nós precisávamos amarrar todas as pontas e ter a certeza de que, realmente, nós estávamos trazendo ao ar informações corretas, averiguadas, checadas. O material que foi ao ar foi um material rico em informação, mas de uma sensibilidade tão grande do Lucas Rocha, dos repórteres cinematográficos, dos editores. […] Cada palavra foi escolhida com critério e, posteriormente, nós tivemos uma surpresa com a edição das imagens”, declarou o apresentador do Tribuna da Massa, Eleandro Passaia.

Estômago

A maioria dos envolvidos na produção da minissérie da Rede Massa tem filhos. A história das irmãs assassinas tirou o sono da equipe.

“Confesso que muitos dias eu voltei para casa e me peguei pensando nisso. […] Por que eu tenho uma filha de sete anos, que é a idade da mais velha na época, que cometeu o homicídio. E é uma coisa difícil da gente acreditar, né”, afirmou Giselle Lima.

“Como pai, fiquei bastante impressionado com a história. Claro que o crime choca bastante, pela forma como aconteceu e por ter sido praticado por crianças”, declarou Marcelo Vellinho.

Apesar de ainda não ser pai, o repórter Lucas Rocha confessa que o maior desafio foi o sentimental. “Ter que lidar com o emocional. De estar em uma história tão assustadora como aquela, mas, mesmo assim, com a função de contar essa história, ir atrás dos detalhes. Isso foi muito desafiador pra mim.”

A frieza das irmãs impressionou o apresentador Eleandro Passaia. “Eu estou na televisão há 27 anos. Eu nunca cobri uma história semelhante, de uma criança de sete, junta com a irmãzinha menor, que tenham matado uma bebê de dez meses e conseguido enganar todo mundo por tanto tempo.”

Audiência

Laços de Sangue foi exibida em cinco episódios, um por dia, durante uma semana. A novela da vida real conquistou a audiência.

“O retorno foi realmente gigantesco. Foi uma explosão. E é interessante, porque ela é uma história que te prende. Terminava a exibição dos episódios no Tribuna e os telefones na redação enlouqueciam. […] As redes sociais também. Todos os canais de comunicação que a gente tem com o telespectador. Não se falava em outra coisa”, revelou a produtora Giselle Lima.

Novas séries

Com o carimbo dos telespectadores, a produção de novas séries da Rede Massa é inevitável. “Todo dia a gente tem novelas sensacionais e a tendência é que a gente procure mais histórias como essa e as transforme em um produto mais elaborado e diferenciado”, afirmou Vinícius Dias.

Para o repórter e apresentador João Gimenez, a produção da Laços de Sangue é um marco. “Daqui pra frente, eu tenho certeza que muitas outras produções vão ser baseadas no formato em que nós fizemos essa”.

“A expectativa para ter outras séries, como a Laços de Sangue, é bem grande. Por que a repercussão que essa série teve foi gigantesca. Nas redes sociais o público comentando, aprovando o produto. […] Que venham mais séries da Rede Massa”, declarou Guilherme Liça.

Segundo Marcelo Vellinho, a produção do Tribuna da Massa sempre busca histórias interessantes e está no DNA do programa contá-las em forma de novelas. “Sabemos que os telespectadores gostam dessas histórias e é nossa responsabilidade contá-las de maneira ética e buscando sempre a verdade”.

Giselle Lima aposta que a fórmula deve se repetir, pois a experiência foi engrandecedora e trouxe muita satisfação e orgulho para a equipe.

“Eu acredito que sim, que os telespectadores podem esperar outras novelas […]. Eu prometo aos telespectadores da Rede Massa que eu vou continuar procurando histórias da vida real”.

Perdeu a Laços de Sangue? Confira abaixo a série completa: