Parceria resgata estação meteorológica centenária na Amazônia

De Redação | 8 de novembro de 2019 | 17:57
Imagem: Talita Baena/ Embrapa

Um projeto realizado entre a Universidade Federal do Oeste Paraense (Ufopa) e a Embrapa Amazônia Oriental restaurou e automatizou a estação meteorológica da Fazenda Taperinha, em Santarém, uma das pioneiras na região. O equipamento vai reativar as medições realizadas no início do século XX, pelo cientista naturalista Gottfried Ludwig Hagmann, que adquiriu o local dos descendentes do Barão de Santarém, em meados de 1911. Os resultados obtidos sobre as condições de tempo e clima do Oeste do Pará terão uso didático-pedagógico e integrarão também a rede de monitoramento da região para fins de produção agropecuária e pesquisas tecnocientíficas.

A atividade, coordenada pelo professor Rafael Tapajós, do grupo de pesquisa Brama-Ufopa, ocorreu nos dias 31 e 1º de novembro e reuniu os alunos do curso de Ciências Atmosférica da instituição de ensino, com apoio da pesquisadora da Embrapa, Lucieta Martorano, por meio do projeto Agromet ABC.

De acordo com a graduanda do curso de ciências atmosférica, Eliane Leite Reis de Sousa, que realizada pesquisa nos arquivos da família Hagmann, onde estão as fichas com as informações de precipitação pluvial, isto é, das chuvas na localidade e também da régua milimétrica do nível do Rio Aiaiá, afluente do Rio Tapajós, a retomada do monitoramento meteorológico é importante para novos estudos em climatologia, não só da região de Santarém, mas também para outras regiões do Brasil. “No acervo constavam informações meteorológicas do Estado do Rio de Janeiro, a primeira estação do país, localizada na residência do pioneiro da meteorologia, Sampaio Ferraz; da Região de Ondina no Estado da Bahia, do Estado do Ceará, do Estado de São Paulo e também dados da estação da Praia de Salinas, a primeira estação do Pará, montada em 1910.”, conta Eliane.

A pesquisadora Lucieta Martorano, da Embrapa, analisa que a estação tem potencial para integrar a rede de monitoramento junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Martorano relatou que o local está totalmente automatizado e também foi instalada uma torre, sensores de perfil de vento e outros sensores robustos de alta resolução para o monitoramento agrometeorológico e meteorológico da região Oeste do Pará. “Nós revitalizamos a estação de Taperinha, com um perfil mais elevado em termos de altitude para monitorar vento e outras condições ambientais, pois aqui em Taperinha, essa estação que foi instalada em 1914 e funcionou com dados homogêneos até 1981, foi resgatado em outubro de 2017 e agora estamos aumentando o número de sensores, pois nesta região já teve plantio de cana-de-açucar e hoje, depois de um século, percebemos uma vegetação secundária, que evidencia a capacidade de resiliência, ou seja, essa capacidade de se recompor ao longo do tempo”.

A pesquisadora reforça que essa ação foi possível graças a parceria resultante do projeto Agromet, que atua na formação de base agrometeorológica para subsidiar a precisão na agricultura e suporte ao crédito agrícola, e é uma articulação de Embrapa, Banco da Amazônia, Ufopa, Inpe, Fapespa e UFPA.

Projeto reativa produção científica em recanto natural e monumento histórico-científico

A Fazenda Taperinha, em Santarém, região do Oeste Paraense tem tradição em produção de ciência. Relatos históricos apontam o local como sendo detentor da primeira estação meteorológica de toda Amazônia.

De acordo com informações da Prefeitura de Santarém, a fazenda pertenceu ao Barão de Santarém, Antônio Pinto Guimarães, em até meados do século XIX, e ganhou destaque na região após a sociedade com o imigrante americano Romulus J. Rhome. Possuía engenhos de cana-de-açúcar, com moinhos movidos a vapor, um grande avanço tecnológico e novidade na época na região. Historicamente, atribui-se à Taperinha a construção do primeiro barco a vapor na Amazônia, que recebeu o mesmo nome da Fazenda.

Berço da pesquisa meteorológica na Amazônia – Ainda de acordo com os relatos locais, após a morte do Barão de Santarém, ocorrida em 1882, a propriedade foi adquirida pelo cientista alemão Godofredo Hagmann. No ano de 1917, acompanhado de sua esposa Júlia Hagmann instalou a primeira estação meteorológica da Amazônia, cujo funcionamento se estendeu até a década de 70, já então administrada pela filha Erica.

O projeto Agromet resgata essa história a partir da revitalização e modernização do monitoramento metereológico. A história conta que a primeira estação foi montada no intuito de sanar ou minizar as perdas agrícolas do início do século XX, decorrentes das frequentes enchentes nos rios que banham a mesorregião do Baixo Amazonas.

Nesta nova etapa, avaliam os coordenadores do Agromet, o local resgata sua vocação de auxílio às atividades agropecuárias e a produção acadêmica e científica, com função didático-pedagógica e apoio aos tomadores de decisão, a partir do fornecimento de base de dados capazes de subsidiar o planejamento e reduzir os impactos negativos em condições adversas e, principalmente em cenários de mudanças climáticas.

Fonte: Embrapa