Produtores de milho adotam cuidados para controle de doença na plantação

De Barbara Schiontek | 23 de fevereiro de 2021 | 10:42
O Paraná é responsável por cerca de 15% da produção nacional de milho, mas poderia ser ainda melhor, não fossem doenças que começaram a ser observadas a partir da safra 2018/19, decorrentes do complexo de enfezamento, que tem como vetor a cigarrinha Dalbulus maidis. - Foto: Divulgação SEAB

O Paraná é o segundo maior produtor de milho do Brasil, sendo responsável por cerca de 15% da produção, mas uma doença começou a ser observada a partir da safra 2018/19, decorrente do complexo de enfezamento, causado pela cigarrinha Dalbulus maidis.

Essa doença, associada ao quebramento do caule, pode provocar perdas de até 100% na produtividade do milho, diz Nota Técnica, assinada por técnicos da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) e Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná).

O levantamento dos órgãos públicos estaduais da agricultura em 200 pontos de 50 municípios, em todas as regiões produtoras do Paraná, mostra que, entre novembro e dezembro de 2020, a cigarrinha foi encontrada em 48% das amostras. “Identificou-se a ocorrência de cigarrinhas e do complexo de enfezamento do milho em todas as regiões produtoras de milho do Estado, na primeira safra de 2020/21, fato este não observado em safras anteriores”, diz a Nota Técnica.

Inseticida

O documento levanta a possibilidade de que a segunda safra mantenha o mesmo padrão: “A perspectiva é de intensificação de ocorrência na segunda safra, o que traz enorme preocupação em relação à adoção de estratégias de manejo que assegurem a produtividade das lavouras e, consequentemente, a renda dos agricultores e o abastecimento dos mercados consumidores”.

A Nota Técnica registra que se observou um grande aumento no uso de inseticidas na segunda safra de 2019/20, chegando a 329,7 mil litros contra 55,4 mil na safra 2018/19. “Porém, o controle da cigarrinha, com repetidas aplicações de inseticidas, não demonstrou resultados satisfatórios em relação ao complexo de enfezamento”, ressalta o documento.

Segundo os técnicos que elaboraram o documento, isso se deve ao fato de que as infestações das cigarrinhas ocorrem em fluxos espaçados, e que as pulverizações podem reduzir as populações, mas não conseguem impedir a transmissão das doenças. “Portanto, é bastante questionável o uso excessivo de inseticidas para o controle do complexo de enfezamento”, reforçam.

Cultivares

O documento destaca que a estratégia mais eficiente é a escolha de cultivares, ou seja, grãos modificados que tenham maior tolerância ao enfezamento do milho. É recomendável que as sementes sejam tratadas com inseticidas na fase inicial da cultura, visando reduzir a incidência de cigarrinhas. O controle químico, via pulverizações, só é tolerável nos estádios iniciais do desenvolvimento da planta.

A nota acentua que o manejo integrado requer a adoção de diversas estratégias. Entre elas, os técnicos citam a eliminação de plantas espontâneas, conhecidas como milho tiguera, com o objetivo de evitar a “ponte verde” entre plantas doentes e plantas sadias.

Além disso, é importante a sincronização do período de semeadura do milho na propriedade rural e em toda a região, com o objetivo de evitar a coexistência de plantas em diferentes estágios de desenvolvimento, que também caracteriza a “ponte verde”.

Monitora milho

A Adapar desenvolveu o aplicativo Monitora Milho, que tem o objetivo de verificar a existência da doença. Os produtores e técnicos são convidados a inserir informações da presença de plantas espontâneas de milho e infestações nas lavouras. Com isso, há troca de informações e alertas para os agricultores e técnicos sobre a distribuição das cigarrinhas nas lavouras paranaenses.

Doença

O complexo de enfezamento consiste na ocorrência de doenças causadas por bactérias da classe mollicutes: o enfezamento vermelho (Candidatus phytoplasma) e o enfezamento pálido (Spiroplasma kunkelii), além do vírus da risca do milho (Mayse Rayado Fino Virus).

Essas bactérias atingem as plantas, afetando o desenvolvimento, a nutrição e a fisiologia e, em consequência, a produção de grãos. Elas são transmitidas de plantas infectadas para plantas sadias pela cigarrinha Dalbulus maidis, que tem grande potencial de dispersão e pode adquirir e inocular patógenos com apenas algumas horas de alimentação no milho.

Colaboração AEN