Logo ap\u00f3s a entrada da Penitenci\u00e1ria Feminina do Paran\u00e1, em Piraquara, na Regi\u00e3o Metropolitana de Curitiba, com instala\u00e7\u00f5es independentes da estrutura carcer\u00e1ria, est\u00e1 a Creche Cantinho Feliz. Todo decorado, o espa\u00e7o tem o objetivo de assegurar os direitos dos rec\u00e9m-nascidos e estreitar os v\u00ednculos entre m\u00e3es e filhos.<\/p>\n\n\n\n
Para as crian\u00e7as, h\u00e1 ber\u00e7os, cubas especiais para o banho, frald\u00e1rio, arm\u00e1rios, muitos brinquedos e tatames. O lugar ainda tem cozinha, lavanderia, m\u00e1quinas de lavar e secar roupa, al\u00e9m de uma equipe t\u00e9cnica multidisciplinar de apoio.<\/p>\n\n\n\n
\u201cA creche tem ambientes l\u00fadicos, que visam dar o atendimento necess\u00e1rio ao beb\u00ea, para que n\u00e3o seja privado de nada do que teria fora do sistema prisional. Os lugares s\u00e3o adaptados para o banho e a higieniza\u00e7\u00e3o, al\u00e9m disso, h\u00e1 salas preparadas para ele ser colocado desde cedo no ch\u00e3o e, assim, trabalhar com autonomia e movimento livre, mas sempre respeitando o tempo da crian\u00e7a\u201d, destaca a diretora da Penitenci\u00e1ria, Alessandra Antunes do Prado.<\/p>\n\n\n\n
Tanto a m\u00e3e quanto o beb\u00ea v\u00e3o para a creche assim que recebem alta do hospital, e permanecem l\u00e1 entre seis e sete meses. Durante a estada, as m\u00e3es s\u00e3o respons\u00e1veis por todo o cuidado em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s crian\u00e7as. \u201cAmbos permanecem na creche durante o dia e, \u00e0 noite, v\u00e3o para a galeria materno-infantil. Desde o primeiro dia, s\u00e3o elas que d\u00e3o banho e trocam as fraldas, inclusive\u201d, afirma Alessandra.<\/p>\n\n\n\n
A presa e seu filho passam as 24 horas do dia juntos, com incentivo total \u00e0 amamenta\u00e7\u00e3o em livre demanda, e \u00e0 cria\u00e7\u00e3o e ao fortalecimento do v\u00ednculo.<\/p>\n\n\n\n
Em uma parceria com o Departamento Penitenci\u00e1rio do Paran\u00e1 (Depen), desde 2014, o Grupo Marista, por meio da Rede Marista de Solidariedade, mant\u00e9m na unidade tr\u00eas educadores sociais, uma assistente social, uma enfermeira e um coordenador. A equipe multidisciplinar d\u00e1 suporte \u00e0s detentas, principalmente nos primeiros dias, quando as m\u00e3es est\u00e3o mais debilitadas.<\/p>\n\n\n\n
\u201cOs banhos s\u00e3o acompanhados pela enfermagem, que d\u00e1 o suporte na vis\u00e3o da sa\u00fade, e pela educa\u00e7\u00e3o, que mostra para as m\u00e3es como o momento pode ser educativo, mas s\u00e3o as presas que os fazem. Depois, na introdu\u00e7\u00e3o alimentar, s\u00e3o elas que preparam e oferecem a alimenta\u00e7\u00e3o aos beb\u00eas\u201d, explica a diretora. \u201cOs profissionais ficam a cargo de dar suporte, orienta\u00e7\u00e3o e aumento do repert\u00f3rio cient\u00edfico de cuidado das crian\u00e7as. Passamos \u00e0s m\u00e3es o que tem de mais novo no mundo cient\u00edfico, mas n\u00e3o impomos nada\u201d, diz Alessandra.<\/p>\n\n\n\n
Desenvolvidas em parceria entre o Governo do Estado, o Depen e o Marista, as iniciativas possibilitaram a implanta\u00e7\u00e3o de a\u00e7\u00f5es e protocolos internos e externos com a rede socioassistencial para a garantia dos direitos b\u00e1sicos das crian\u00e7as atendidas. \u201cOs beb\u00eas, enquanto est\u00e3o na unidade, t\u00eam garantia de atendimento e acompanhamento m\u00e9dico e vacina\u00e7\u00e3o\u201d, explica a diretora. \u201cComo a m\u00e3e n\u00e3o pode sair, a enfermeira fica encarregada de lev\u00e1-los \u00e0s consultas com o pediatra da unidade de sa\u00fade e tirar as d\u00favidas das presas, que anotam tudo em pap\u00e9is. Geralmente, no mesmo dia, as crian\u00e7as s\u00e3o vacinadas e recebem os demais atendimentos necess\u00e1rios\u201d.<\/p>\n\n\n\n
A abordagem que a equipe do Grupo Marista usa na unidade \u00e9 a mesma usada em toda a educa\u00e7\u00e3o infantil da rede, desenvolvida pela pediatra h\u00fangara, Emmi Pikler, refer\u00eancia em todo o mundo para cuidados e educa\u00e7\u00e3o de zero a tr\u00eas anos. De acordo com a m\u00e9dica, quanto mais livre, melhor o aprendizado do beb\u00ea. \u201cElas explicam sobre a necessidade que a crian\u00e7a tem de ser tocada, acariciada e de pegar e manipular objetos, por exemplo\u201d, destaca Alessandra, que ainda conta que as presas geralmente j\u00e1 tem um ou mais filhos fora do sistema penitenci\u00e1rio e, por isso, j\u00e1 chegam \u00e0 unidade com certa bagagem de experi\u00eancia maternal.<\/p>\n\n\n\n
\u201cN\u00e3o podemos desmerecer a cultura que elas j\u00e1 t\u00eam, o que fazemos \u00e9 ampliar o conhecimento delas, principalmente no que se refere \u00e0 alimenta\u00e7\u00e3o e cuidados b\u00e1sicos\u201d, ressalta. A diretora diz tamb\u00e9m que tentam sempre mostrar a import\u00e2ncia da comunica\u00e7\u00e3o com os beb\u00eas para a cria\u00e7\u00e3o do v\u00ednculo e desenvolvimento deles. \u201cA maioria das m\u00e3es fala que, apesar de ter outros filhos, a cria\u00e7\u00e3o era diferente. Outras riem, ficam sem gra\u00e7a no in\u00edcio, porque acham que eles n\u00e3o v\u00e3o entender, mas v\u00e3o gostando e aderindo, conforme o tempo passa\u201d, explica.<\/p>\n\n\n\n
Durante a estada na creche, as presas s\u00e3o incentivadas a criar o \u201cLivro do Beb\u00ea\u201d, com anota\u00e7\u00f5es das etapas de desenvolvimento da crian\u00e7a. \u201cFornecemos o material necess\u00e1rio, como pasta-cat\u00e1logo, folhas, E.V.A., canetas e l\u00e1pis de cor, e elas anotam tudo, com criatividade. T\u00eam cartas, fotos, lembran\u00e7as, varia bastante, mas as m\u00e3es adoram\u201d, conta Alessandra. Esta \u00e9 uma forma de a fam\u00edlia conhecer e entender a crian\u00e7a, depois da sa\u00edda dela da Penitenci\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n
Como as visitas presenciais s\u00e3o dif\u00edceis, por quest\u00f5es financeiras e estruturais das fam\u00edlias, entre v\u00e1rios outros motivos, a Penitenci\u00e1ria Feminina faz uso as webvisitas. \u201cUtilizamos o recurso da videoconfer\u00eancia para que a fam\u00edlia extensa da crian\u00e7a (que inclui o pai da crian\u00e7a, os av\u00f3s e tios) a conhe\u00e7a e para que o beb\u00ea possa se acostumar com rostos e vozes dos familiares\u201d, afirma Alesssandra. Por\u00e9m, ela destaca que \u00e9 feito um trabalho junto \u00e0 Defensoria P\u00fablica para conseguir a libera\u00e7\u00e3o de m\u00e3e e filho. Em 2019, por exemplo, apenas tr\u00eas delas foram mantidas no c\u00e1rcere ap\u00f3s a sa\u00edda das crian\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n
\u201cQuando nasce, o beb\u00ea j\u00e1 tem uma medida protetiva instaurada e \u00e9 criado um Plano Individual de Atendimento, que inclui as indica\u00e7\u00f5es da pr\u00f3pria m\u00e3e sobre quem poder\u00e1 ficar com o filho. No caso de a m\u00e3e n\u00e3o sair do sistema prisional, a rede social do munic\u00edpio de origem da detenta far\u00e1 o mapeamento e acompanhamento da fam\u00edlia extensa, para indicar com quem ficar\u00e1 a guarda\u201d, explica.<\/p>\n\n\n\n
O processo de transi\u00e7\u00e3o para a sa\u00edda do beb\u00ea da unidade inicia desde que eles chegam \u00e0 unidade. \u201cA m\u00e3e sabe que, ap\u00f3s seis ou sete meses, o filho precisa ir embora\u201d, destaca Alessandra. \u201cPor volta do quinto m\u00eas, os beb\u00eas que mamam exclusivamente no peito, passam tamb\u00e9m a mamar a f\u00f3rmula e iniciam a alimenta\u00e7\u00e3o complementar. \u00c9 promovida ao menos uma visita familiar para que a crian\u00e7a se acostume com o seu tutor\u201d. Depois, no caso de a m\u00e3e permanecer no sistema prisional, \u00e9 incentivado que m\u00e3e e filho se vejam, por meio das visitas.<\/p>\n\n\n\n