Neurocirurgia pode beneficiar pacientes com epilepsia que não respondem aos medicamentos

De Barbara Schiontek | 24 de março de 2021 | 13:21
Na foto, Murilo Meneses. Crédito: Celso Pilati

No Brasil, há uma estimativa de que cerca de 3 milhões de pessoas têm epilepsia, uma doença causada por descargas elétricas anormais que provocam alteração nos neurônios. Essa desordem cerebral pode ocorrer por distúrbio genético ou ser adquirida por lesões cerebrais, como traumatismo ou ruptura de um aneurisma, além de condições metabólicas, infecciosas e até pela existência de tumores.

O mais importante é que as pessoas tenham acesso a um diagnóstico e tratamento adequados, tendo em vista que 70% do controle das crises ocorre com o uso de medicamentos. “A conscientização do público em geral é muito importante, para que fique claro que esta é uma condição que pode ser tratada”, reforça o neurocirurgião e chefe da Unidade de Cirurgia de Epilepsia do Hospital INC, Murilo Meneses.

“Ter epilepsia não significa estar condenado a ter uma vida com limitações. Na maioria dos casos, com o tratamento adequado a pessoa fica bem, e nessas circunstâncias pode trabalhar e levar uma vida normal, inclusive, deve ser estimulada a isso. A pessoa com epilepsia ainda convive com o preconceito”, diz Meneses.

O médico, que é especialista em Neurocirurgia Funcional, área que abrange o tratamento da epilepsia, explica que os outros 30% dos pacientes, que não respondem ao tratamento e que passaram por exames e acompanhamento especializado, podem realizar uma cirurgia que retira ou controla o foco epiléptico.

De acordo com o especialista, a indicação para cirurgia de epilepsia ainda avalia outros fatores, como qualidade de vida, trabalho, se está em idade escolar e o impacto da medicação na saúde.

Centro especializado

Entre as pessoas com epilepsia que são resistentes aos medicamentos, há aquelas que acabam apresentando um quadro mais grave, com perdas cognitivas e outras alterações neurológicas. “O tratamento com neurocirurgia vai desde remover a parte do cérebro doente até implantes de estimulação cerebral ou do Nervo Vago, um pequeno computador que pode detectar a chegada de uma crise e evitar que ela ocorra por meio de estímulos, são técnicas bem modernas e sofisticadas que estão evoluindo constantemente”.

O Hospital INC foi um dos pioneiros da Estimulação do Nervo Vago, que é eficaz para reduzir em até 90% os sintomas da epilepsia, como as crises convulsivas.

É válido acrescentar que mesmo as técnicas mais complexas de estimulação cerebral ou do Nervo Vago já foram reconhecidas pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e pela Anvisa e, consequentemente, são cobertas pelos planos de saúde.

Doença pode iniciar em todas as fases de vida

A epilepsia abrange um grupo grande de pessoas com problemas que não são exatamente os mesmos. Ela pode surgir na infância, quando geralmente é benigna e desaparece com algum tempo de tratamento, mas também há formas mais graves, que recebem o nome de epilepsias catastróficas da infância. A doença também pode começar na fase adulta ou idosa.

As crises epilépticas são distintas umas das outras. As focais são provocadas por descargas elétricas numa determinada área cerebral, quando essas descargas se espalham pelo cérebro, a pessoa apresenta uma crise generalizada, sendo chamada a mais conhecida de tônico-clônica. Existem ainda as crises atônicas, que levam a pessoa a quedas repentinas.

O especialista recomenda que, se houver alguma suspeita de crises, a pessoa precisa procurar um médico. “É possível ter uma crise dormindo e acordar com a língua mordida. Às vezes, acordar no chão, fora da cama ou perceber que perdeu urina. A crise ainda pode ocorrer quando a pessoa está sozinha, levando-a a uma perda de consciência”.

Purple Day

O “Dia Roxo” é celebrado em 26 de março, desde 2008. Foi criado por uma criança canadense de nove anos de idade, na época, com a ajuda da Associação de Epilepsia da Nova Escócia (EANS). A menina escolheu a cor roxa para representar a epilepsia, fazendo relação com a flor de lavanda que costuma ser associada a solidão, sentimento compartilhado por muitas pessoas com a doença. A campanha propõe, além de refletir sobre as formas de tratamento e prevenção, conscientizar a sociedade sobre a discriminação com os portadores da síndrome, que jamais devem ser isolados.